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PYER MOSS

Como a Pyer Moss revoluciona na moda e trás o protagonismo negro pra um mercado tão segregatório e racista

A grife Pyer Moss foi fundada em 2013 pelo designer artístico Kerby Jean‑Raymond afro norte‑americano filho de imigrantes haitianos que cresceu no bairro periférico do Brooklyn‑EUA. O lançamento da grife se deu após a artista Rihanna usar uma jaqueta assinada pelo próprio Kerby, e desde então o designer tem feito barulho, cutucado feridas e levantado questionamentos sobre a indústria da moda e toda sua construção, tendo como base, predominantemente a elite branca.

"O meu objetivo ao criar coleções é basicamente voltar a nos incluir na história" afirmou Kerby Jean‑Raymond em entrevista ao Highsnobiety. Essa frase de Kerby diz muito sobre o posicionamento que ele tem com a sua grife, que para além de apresentar peças inovadoras e criativas que caracteriza um estilo e conceito único, suas coleções sempre vem com um apelo social e racial, seja uma crítica ao sistema existente e/ou para enaltecer e dar visibilidade a cultura negra e as pessoas que a construíram, com o intuito de registrar um marco da passagem destes que por anos são invisibilizados e apagados na história da moda.


América Primavera/Verão 2020

Uma das coleções emblemáticas foi a coleção América Primavera/Verão 2020, a começar pela escolha do local do desfile que foi situado no bairro Weeksville, Brooklyn. Região conhecida pela ocupação negra durante a política de segregação dos Estados Unidos. Kerby simplesmente fez a categoria inteira da moda se voltar para o local onde foi construida a história e cultura negra estadunidense, onde se criou o real nicho streetwear hypado no momento e apropriado pelas grandes marcas/grifes.

A coleção se dividiu em três categorias de apresentação abordando o mesmo enredo: expor a contribuição da comunidade negra para a construção da cultura popular, apresentar os nomes e pessoas apagados da história e exaltar a estética preta sem deixar de lado os questionamentos a estrutura genocida.


Semana da Alta Costura

Com certeza se ouviu muito sobre essa grife nos últimos tempos, após o encerramento com seu desfile na semana mais luxuosa (segregatória e classista) da indústria da moda, semana da Alta Costura. Mas o grande marco na história se deu por Pyer Moss ter à frente o primeiro negro afro‑estadunidense Kerby Jean‑Raymond compondo o calendário oficial de couture após convite da Fédération de la Haute Couture et la Mode.

E claro que Kerby não deixaria ser apenas uma passagem pela temporada sem acrescentar os grandes feitos realizados pelos que antecederam até este fatídico momento. Começando pela locação da apresentação, Villa Lewaro, que foi escolhida por representar a residência da primeira negra estadunidense milionária, empresária no ramo de cosméticos destinados aos cuidados à estética preta, a Madam C. J. Walker, além de estar situado as margem do rio Hudson em Irvington, que também serviu de ponto de encontro para alguns dos nomes mais importantes do Harlem Renaissance, movimento que influenciou boa parte da produção artística e musical dos anos 1920.


Antecedendo a apresentação, Elaine Brown, a primeira e única líder mulher do Partido dos Panteras Negras, discursou sobre a luta e o movimento negro pela liberdade e equidade racial, reforçando mais uma vez o posicionamento da grife. E enfim, a aparição de uma boa aula de história através de roupas, afinal a coleção tem como tema central mostrar através de indúmentárias inusitadas as criações de inventores negros que foram esquecidos e apagados dos livros de história.

Que potência não é mesmo?! Difícil não ler, ouvir ou ver as obras desta grife e não se encher de esperança e fôlego para continuar desconstruindo toda esta estrutura elitizada e branca da moda, e muito mais do que isso, mostrar os grandes feitos que realizamos em meio a um mercado segregatório e racista que vivenciamos. A Pyer Moss nos mostra que além de fazer peças de roupas precisamos movimentar e mudar o curso da indústria, não basta chegar ao topo, às semanas de moda mais visadas do mundo, não vale de nada vestir grandes pessoas e famosos, sem balançar a árvore para derrubar as frutas podres ou levantar outres que são menorizados junto contigo. É sobre ocupar e usar sua posição pra levantar debates importantes socialmente que refletem no comportamento dos criadores e consumidores, e sobre contar a verdadeira história dos que colaboraram para cultura e a moda apropriada e comercializada pelos grandes nomes, falar os nomes e mostrar os rostos daqueles que são invisibilizados e tem sua vida esvaziada pelo racismo estrutural. Lembrem dessa grife, lembrem desse designer e pensem sobre a relevância que você quer causar no mundo, conheçam a história destes e tantos outres que marcam a indústria fashion, apoiem outres que estão nesta jornada afim.




TEXTO: LETICIA CORTES (@LCOORTES)


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